domingo, 25 de abril de 2010

Quando eu quis matar Jéssica.

O homem, por natureza, nutre desejos ou simples pensamentos, lá no mais recôndito do seu ser, de realizar coisas que, se descobertas, lhe renderiam duras críticas. Desde as curiosidades mórbidas até as vontades de esganar alguém, todos já tivemos um momento de "Deus me perdoe!".
Ah, vá! Vão me dizer que nunca pensaram "minha vingança será maligna"?
Seus hipócritas, vocês nunca sentiram vontade de aniquilar ninguém, num momento de fúria? Nunca desejaram que um professor morresse no dia da sua prova ou que um acidente acontecesse só para você ter uma desculpa que justificasse seu atraso no trabalho?
Pois bem. Isso não faz de vocês seres psicopatas...


Discordando de Rousseau ("o homem nasce bom, a sociedade que o corrompe"), vejo que o apreço pelo mal na verdade nos acompanha desde girinos. Cabe à sociedade, com suas regras e ideologias (ideologia, eu quero uma pra viveeer), limitar o homem e não permití-lo fazer tudo aquilo que seu "instinto selvagem" o impulsiona. E, a fim de frearem estes súbitos desejos de fazermos o mal, estão aí os grandes provérbios, parábolas com moral da história e bons ensinamentos educando nossas pérfidas mentes... Qui bón.

"A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena."

Pirralha lá pros 3 anos, já tinha um comportamento complicado, devido às oscilações entre momentos de relevante ternura e simpatia, e pensamentos maquiavélicos de vingança e rebeldia. (É, eu queria mesmo rimar.)
Eram sórdidos planos malignos, fortemente incentivados pelos desenhos "infantis", os quais sempre têm a bruxa malvada que prepara poções mágicas para transformar em lagarta, aqueles que teimam em atrapalhar o seu caminho.
Além de beliscar um primo de colo e fingir que não era eu, tirar meleca do nariz da minha prima e colocar em sua boca, empurrar da cadeira uma abiguinha que queria ficar grudada em mim, injustiçar Joãozinho, enforcar uma coleguinha que não queria me emprestar seu brinquedo e et coetera, vislumbro o auge da minha maldade pueril quando tramei contra Jéssica.

Ela tinha dentes tortos, era loirinha e esquelética. Mas era muito esquelética, tadinha. Ela me fez algo tão ruim, mas tão ruim, que fomentou em mim o desejo de bolar um plano realmente cruel, capaz de eliminá-la, para sempre, da minha vida...
Sabendo-se bem da índole que eu tinha, é bem provável que eu tenha me irritado pelo fato dela não ter levado o biscoito presuntinho que seria recheio do nosso hambúrguer de fandangos que faríamos no recreio. Eram nossas primeiras tentativas de picnic, poxa... Ou, quem sabe, algum garoto bonitchenho por quem eu nutria um amor estava de olho nela. Hum, logo por aquela magricela!

Decidida, então, a por em prática de uma vez por todas tudo o que se passava na minha mente, peguei imediatamente uma bala dura e verde que estava no meu bolso há dias, tirei-a do pRástico e a esfreguei sofregamente no chão. Muito. Até ficar arranhada e preta.
Meus coleguinhas, assustados, perguntavam-me o motivo de tanta convicção em se esfregar uma bala de menta e não, simplesmente, enfiá-la logo na boca. Eu não respondia. Apenas sorria.
Embalei-a cuidadosamente de volta.
Como cresci ouvindo que não devíamos comer nada que estivesse no chão por causa dos micróbios, julguei poder, enfim, matá-la se lhe desse a bala suja.
Procurei a esquelética e ofereci-lhe o doce, tal como a serpente ofereceu a maçã a Eva e Adão. (viva o cacófatooo!)
Talvez por já conhecer bem a mim e os meus planos, ela apenas olhou nos meus olhos e disse que não. Sorte a dela...
Mas, por que ela não aceitou??? E se esse fosse um pedido de "vamos ficar de bEIn?"
Isso só aumentou a minha raiva, que durou mais uns 2 dias.
Ignorei-a em todo esse tempo e já não prestava mais atenção nas aulas, maquinando um plano B.
Como na maioria das minhas relações desfeitas, ela quem correu atrás de mim e voltamos a ser abigas.
Toda a fúria foi embora e deu lugar ao amor e à benevolência.
Cedi.
E retornamos ao mesmo ciclo vicioso de alegrias-discórdias-planos malignos...
Mudamos de escola. Ela sobreviveu a mim.
Mas até hoje, volta e meia, me pego sentindo um súbito desejo de oferecer balas por aí...

Um comentário:

Ai love you beibe Lá lá lá lá lá lá
Ai nid you beibe Lá lá lá lá lá lá
Ai love you beibe Pa ra ra ra ra ra ra.